"OITO ANOS"
- Jéssica Vieira
- 4 de jan. de 2018
- 2 min de leitura
Provavelmente deveria começar isto com um "olá, como estás?" mas já se passaram oito anos desde que não estás. Não sei qual é a razão pela qual eu achei que seria uma boa ideia fazer disto uma espécie de tradição, portanto todos os anos te faço uma carta diferente. Uma carta que não tem destino e fica sempre a vaguear por algures porque não sei onde te poderás encontrar, apenas sei que estás "num lugar melhor".
Custa a acreditar que já se passaram oito anos. Eu era uma criança mas isso não fez com que o sentimento de perda não ficasse cá.
Queria dizer-te que estou bem, estamos todos bem. Temos todos muitas saudades tuas e ver sempre aquela cadeira vazia em jantares ou almoços custa um pouco.
Todos os dias olho para ti, passado oito anos continuo a olhar para ti na esperança que estejas a fazer o mesmo e a olhar por todos nós. Perco sempre, no mínimo uns bons cinco minutos do meu dia a olhar para ti e nasce aí a explicação da minha paixão pelo infinito céu acima de nós.
Há uns anos estive quase a fazer-te uma visita mas não era a minha vez. Essa chegará mas não para já. Não te preocupes, eu estou bem. Na verdade nunca estive tão bem como agora. Sei que não sou a única a sofrer com perdas e seria puro egoísmo da minha parte acha-lo. Todos os dias, a toda a hora partem pessoas. Todos os dias várias pessoas enfrentam a dor que é perder um ente querido e sentir a escuridão ocupar o vazio deixado.
Foi há oito anos e eu não consegui nem dizer um adeus ou sentir a dor que realmente se sente nestes casos. Posso não ter sofrido na altura, mas todos os dias me lembro de ti, todos os dias revivo as memorias apesar de serem poucas.
Agora, passado oito anos já entendo como a morte funciona: ela aparece quando menos esperamos.
Eu sinto a tua falta e foi isto que me fez com que eu conseguisse ver a diferença no sentir saudade e no sentir falta de alguém. Se eu tivesse saudades, mais tarde ou mais cedo tu voltarias mas já se passaram oito anos e ainda não voltaste. Tu não vai voltar e é isso que faz com que nasça um vazio em toda a gente que perde alguém: saber que depois da morte chegar não há mais nada, a pessoa foi-se e jamais voltará, tudo o que resta é o vazio deixado.
Nas regras e como muito bem me ensinou a minha professora de português, uma carta tem que acabar com uma despedida mas esta não. Eu não vou dizer adeus, porque fazê-lo seria como se me estivesse a despedir totalmente de ti e eu não o tenciono fazer tão cedo.
Daqui a um ano volto a escrever-te e espero mesmo que estejas, como toda a gente diz "num lugar melhor".




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