monólogo
- Jéssica Vieira
- 29 de set. de 2018
- 2 min de leitura
Dou por mim a falar com as estrelas. É um dos monólogos mais lindos que eu tenho diariamente. Todas as noites me sento a olhar para elas e a falar de ti, conto-lhes todos os teus pormenores, sobre toda a insegurança que te devora e sobre o quão te escondes na tua escuridão. Não obtenho a mínima reposta, tal como nas nossas conversas. Não obtenho respostas mas eu gosto do silêncio transmitido por elas, eu gosto dos meus monólogos com elas. Tola seria eu em ter um monólogo sobre ti, contigo.
A dúvida ainda me persegue, ela consome-me. Desistir ou insistir? Eu quero a tua felicidade, desejava que a partilhasses comigo, que fosse a mesma. Desejava que realmente fosse mútuo. Desejava voltar ao passado mas ao passado não posso voltar e aí volta a entrar a retórica. Sim, retórica, porque retoricamente me pergunto e jamais encontro uma resposta. Sou masoquista em continuar a alimentar tal questão, sou masoquista por não te dar a entender, por não te dizer. Sou masoquista por ser covarde.
Meses já se passaram desde então e, por seguida, serei covarde mais uns meses. Vou bater com a cabeça na parede mais umas vezes, vezes essas já incontáveis. Vou alimentar a raiva que sinto por mim mais um pouco. Vou ficar magoada ao ver-te feliz mas não te vou prender.
E peço desculpa...desculpa por não ter acreditado. Desculpa por não ter ajudado a alimentar o sentimento quando ele existia. As dúvidas que eu sentia em relação a mim eram demasiadas e eu era incapaz de amar alguém com tanta questão a apoderar-me a cabeça. Eram demónios, demónios esses que te afastaram e agora alguém te ama. Esse alguém não sou eu. Eu já tive essa oportunidade, não a aproveitei...não no momento certo. Tentei alimentar os sentimentos quando os teus já tinham morrido de fome e agora estou esfomeada.
Contudo, imagina o caos que seria falar disto num monólogo contigo. Não faria sentido nem correria bem e é por isso que recorro à escrita e às estrelas. As estrelas não opinam e deixam-me ser boba na minha maneira, deixam-me ser a louca apaixonada a descrever como é o teu sorriso quando falas com outrem que, realmente, te está a fazer feliz. E a escrita? Como tu dirias, é no que eu tenho o mínimo jeito. A escrita é onde eu me tento perceber e, talvez, seja por isso que evite tanto fazê-lo...para não perceber a confusão com que fico ou como ficarias se fosses uma das estrelas que, em algum dia, já ouviu o meu monólogo.




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