somos pássaros engaiolados
- Jéssica Vieira
- 21 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Já se passaram bastantes dias, semanas, quase que podemos dizer meses mas ainda não chegamos ao plural. Só uma coisa conseguimos dizer sobre esta rotina em que somos reféns das nossas próprias casas, onde somos comparados a pássaros engaiolados. Só posso dizer uma coisa, por muito que continue nesta rotina e tente adaptar-me, nunca conseguirei normalizar isto e, jamais, deixarão de ser estranhos.
Estamos retidos a ficar no nosso cubículo, ver as fotos de família uma e outra vez, limpar espaços de nossa casa que já não sabíamos como, observar os carros lá fora que passam com pessoas que têm que manter a sua rotina de trabalho. Quem diria que o dia em que não podemos pisar o exterior chegaria? Quem diria que teríamos medo de sair para fazer as compras do nosso quotidiano? E quando isso acontece, ficamos espantados com o que nos rodeia como se fosse a primeira vez que vemos o mundo exterior, que estamos em contacto com o resto dos cidadãos.
A única maneira de ver os dias a passar é através das janelas, neste momento sujas devido às gotas de chuva, no entanto, não no incomodamos, vemos a chuva, o sol, estrelas elua e assim os dias passa. Vemos a natureza a florescer por já não ter contacto com os humanos como se a mãe natureza tivesse planeado isto para darmos um descanso à nossa Terra. Hoje um, amanhã outro. Oxalá que o de amanhã seja diferente. E não o é, acaba por ser mais do mesmo. Acordar, levantar, fazer a higiene, comer e sentar-me numa cadeira que, por este andar, me entortará ainda mais as costas. Aí tenho ficado em frente a um ecrã a ter as aulas que tendem a ser produtivas mas que na verdade só nos confundem mais e me prejudicam cada vez mais a visão.
Quem diria que o maior inimigo desta década que acabou de começar seriam os afetos. Abraços. Tenho saudades do toque humano, do tempo que passava a rir numa esplanada.
A única coisa que se tem aproximado do conforto humano, do quentinho na alma e no coração têm sido os livros. Tinha uma pilha de livros no meu quarto onde, a sua leitura, estava a ser adiada há bastante tempo e agora só me resta um livro. Um mísero livro. Tento ler o máximo porque o máximo que ler, o menos me sinto presa porque, na minha mente, viajo. Viajo para longe, para uma realidade que já foi nossa. Para uma realidade onde éramos pássaros livres, voávamos para onde o vento nos levasse.
Acabamos que sentir que somos maior que a nossa existência e que a nossa vontade de viver nunca fora tão grande como nesta ocasião. Recordamos as oportunidades que tivemos de viver e acabamos por nos ficar porque pensávamos que haveriam sempre mais oportunidades......mas hoje só queríamos essas oportunidades para as viver.
E assim tem sido a nossa vida, a contar os segundos para que haja uma noticia de que, finalmente, podemos ir para o exterior sem restrições. Mas no meio de tantos segundos contados dizemos que as segundas são quintas e as sextas domingos e assim nos perdemos na nossa rotina.
Que existência tão estranha esta. Estamos mesmo a viver isto? Oxalá toda a gente esteja em casa, oxalá todos estejam seguros. Oxalá todos estejamos a plantar saudade, oxalá ela esteja a florescer tal como as flores que florescem nesta primavera. Primavera essa à qual não podemos sentir o cheiro. Oxalá amanhã acorde e tudo tenha um fim próximo!




Comentários